quinta-feira, 28 de abril de 2016

Dilma diz que Cunha é o "pecado original" do impeachment

A presidente Dilma Rousseff voltou a criticar abertamente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e disse que ele é o "pecado original" do processo de impeachment que tramita contra ela no Senado Federal.

Em discurso durante a Conferência Nacional de Direitos Humanos, a presidente disse que Cunha, alvo de acusações e pedidos para ser investigado no Supremo Tribunal Federal, recebeu o pedido de impeachment contra ela para se livrar dos processos.

"O senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Qual é? 'Votem para impedir que eu seja julgado no Conselho de Ética, tirem os votos que o governo tem no conselho, eram três votos, e aí eu não entro no processo de impeachment. Um governo que aceita uma negociação dessas é um governo que entra em processo de apodrecimento. Por isso nós recusamos essa negociação."

Sem citar o vice-presidente Michel Temer, Dilma disse que um eventual governo de seu sucessor, caso o Senado decida afastá-la da Presidência, vai retirar direitos sociais e de grupos como a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros).

A presidente citou a inclusão do nome social na identidade das pessoas que mudaram de sexo, reivindicação antiga da comunidade homossexual. "Nós vamos discutir o nome social. Eles não vão discutir o nome social com vocês. Eu asseguro a vocês que nós discutimos. Eles não só não discutem como jamais farão uma legislação para garantir direitos do povo LGBT", disse.

Impeachment

A uma plateia de milhares de defensores dos direitos humanos, Dilma repetiu que não possui contas no exterior, que não usou dinheiro público para se beneficiar, que não é acusada de corrupção e que não cometeu crime de responsabilidade, o que daria base jurídica para o impeachment.

Mais uma vez, a presidente explicou que os seis decretos de suplementação que foram assinados por ela, e que embasam o pedido de impedimento que tramita no Senado, fazem parte de uma acusação "arranjada" e "frágil".

"Sempre foi feito isso no Brasil desde 1994, só que na minha vez é crime. Só tem isso. Não tendo crime para me acusar, inventam que é crime aquilo que não é crime."

Dilma chamou de "meia verdade" o argumento de o processo de impeachment é legal porque está previsto na Constituição. "Você faz uma meia verdade pra encobrir sua mentira. De fato, todo mundo aqui pode dizer que o impeachment está previsto na Constituição Federal. Só que não pode ter impeachment sem base jurídica, sem crime. Aí quando você faz impeachment sem base legal você está é praticando um golpe", disse, reforçando a tese que tem apresentado em discursos.

Dilma ainda avalia momento de enviar proposta de novas eleições

Dilma Rousseff voltou a dar sinais de que está disposta a enviar ao Congresso uma proposta de antecipação das eleições para encurtar o seu próprio mandato. O vazamento dessa estratégia, porém, contrariou Dilma, que ainda avalia o melhor momento para tomar a iniciativa. Com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, um grupo de

senadores irá hoje ao Palácio do Planalto entregar uma carta a Dilma, solicitando a ela que encaminhe logo uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), sugerindo a convocação de eleições em outubro.

Os movimentos sociais, no entanto, são contra, sob o argumento de que isso enfraqueceria nas ruas a "batalha" contra o impeachment. Apesar de apoiar o plano, até mesmo para "emparedar" o vice-presidente Michel Temer, o PT decidiu não erguer agora a bandeira das "diretas já" por uma questão estratégica.

A cúpula do partido não quer se indispor com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e com o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) num momento em que precisa de seus militantes nas ruas, contra o que chama de "golpe". Além disso, acha que a iniciativa deve partir da própria Dilma.

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